Impermanência
Início, meio, fim.
Nascer, crescer, morrer.
Certa vez fui a uma palestra de um monge budista e aprendi um pouco mais sobre a impermanência, nessa época eu estava passando por um recente término de namoro e já me envolvendo com outra pessoa (história complicada pra outro post haha) e essa palestra foi um ponto de virada muito interessante em minha vida.
Foi engraçado porque por mais que eu percebesse que estava insistindo em uma pessoa para suprir uma carência, eu tentava olhar de uma perspectiva que daria certo no final. Estava seguindo à risca a expressão “dando murro em ponto de faca” como gostam de dizer. Durante a palestra eu pude entender que logo aquela paixonite também teria um fim.
Tudo é transitório, tudo tende a acabar. Esse é o conceito de Anicca um dos principais conceitos para descrição do universo segundo o budismo. Antes que saia do texto por ter aversão ao assunto de religiões, fique mais um pouco para tentar enxergar de outra perspectiva. Quero te dizer que não tenho uma religião ou opinião clara sobre a existência de Deus, tenho uma visão meio sincretista da coisa, porém tenho um certo fascínio em como os indivíduos se organizam para tentar explicar o universo. Dessa forma se preocupe em analisar o conceito e não o todo, depois que você entende que tudo tende a ter um fim, você consegue suportar melhor os impasses da vida.
A gente encerra o período da escola, da faculdade, do trabalho, trocamos de amigos e lugares, vivenciamos experiências e estas possuem um fim. Eu tive um relacionamento, tive amigos que jurei que nunca iria me afastar, tive visões que mudaram no decorrer da vida, tive certezas que se tornaram dúvidas e hoje a única certeza que tenho é a mudança.
Apocalipsters, Lives na Twtich, Fresno
Apocalipsters foi um projeto de podcast que fiz parte, aprendi bastante e pude trocar ideia com pessoas diversas, mas chegou um momento que simplesmente as coisas não foram fazendo mais sentido nem pra mim, nem pra algumas pessoas que estavam por lá, que seja por outros projetos, essencialismo, divergências ou qualquer outro motivo. E tá tudo bem, são efeitos naturais da vida.
Como disse no primeiro texto deste blog, em 2020 comecei a fazer lives na Twitch, cantei bastante num karaokê online através do Twitch Sings, fiz amigos e os mantenho até o momento, porém chegou uma fase que não estava bem pra entregar entretenimento para outras pessoas. Eu até estive afim de continuar, mas problemas e tropeços pessoais acabaram me afastando das streams e hoje não vejo tanto sentido em voltar a fazer lives.
Nutro um carinho muito grande por esse tempo porque me diverti muito, consegui atravessar a pandemia devido a esses momentos tão fodas das lives, agradeço muito as pessoas que partilharam seu tempo comigo nessa fase tão difícil de nossas vidas. Esse é mais um caso de impermanência bem claro, período que teve início, meio e fim e serviu seu propósito.
Dando sequência nessa fase pandêmica, uma coisa que me ajudou bastante foram as lives da Fresno. Quer uma banda que mais mudou do que a Fresno? Bem tem várias kkkk como Bring Me The Horizon, King Gizzard & The Lizard Wizard e Linkin Park, mas não vamos fugir do assunto do texto.
Acho que essa constante mudança torna uma banda autêntica, há quem discorde e prefere bandas que seguem por anos fazendo a mesma coisa, mas não curto muito essa ideia porque para mim ninguém permanece o mesmo pelo resto da vida. Consigo ver mais verdade em bandas que sofrem um certo nível de mudança ao longo do tempo. A banda muda, seus integrantes mudam, a fase da vida muda e o que temos pra contar também muda.
Há pessoas de mente pequena que remetem a Fresno à fase emo (que Rick Bonadio se aproveitou de uma forma muito esperta pra lançar diversas bandas) mas a banda vai muito além disso, tem membros muito competentes e tem o Lucas como frontman, que é uma mente totalmente insana e criativa, essa mente pode nos oferecer álbuns como Ciano em uma época de juventude e agora nos entregando discos como Sua Alegria Foi Cancelada e Vou Ter Que Me Virar.
Que bom que essas bandas evoluem e não seguem fazendo a mesma coisa, que bom que nós, como seres humanos, também possamos ter esse espaço para evolução. Quantas vezes vocês já ouviram a frase sendo dita em um tom pejorativo: “Nossa, fulano mudou”.
Eu penso diferente, penso: "Que bom que mudou e conseguiu enxergar pontos que não enxergava antes". Se uma pessoa permanecesse a mesma após anos e anos, sinto muito, mas tem algo de errado aí. Os melhores amigos que tenho hoje, talvez não sejam os mesmo daqui 10 anos e ta tudo bem, que vivamos os melhores momentos que podemos viver aqui e agora. Tenho vários amigos que não conversamos mais, mas se nos encontrarmos vamos trocar muita ideia e saber que mesmo tendo mudado nutrimos um apreço enorme um pelo o outro.
Quantos de nós sentimos nostalgia de acordar cedo na infância e comer um cereal ou uma bolacha com leite, assistir desenhos animados e tudo mais. Quantos têm saudades das festas de faculdade, quantos possuem saudades de uma viagem ou um show que foram, mas a vida é assim, uma constante mudança. A experiência chega ao fim e logo o que temos são apenas lembranças.
Pode ser uma verdade dura de encarar, mas quando você entende que amigos vêm (não sei se com a “nova” regra ortogŕafica essa palavra se mantém haha) e vão, que relações de trabalho, amorosas, de amizade e até mesmo familiares mudam ou terminam e que nós como seres humanos estamos em constante mudança, você consegue aproveitar melhor os ciclos e acontecimentos da vida.